NOTA CONJUNTA DA CONFREM E MPP SOBRE
OS IMPACTOS DA MEDIDA PROVISÓRIA 1303 NOS PESCADORES E PESCADORAS
ARTESANAIS
O Movimento dos Pescadores e Pescadoras Artesanais (MPP) e a Comissão Nacional de Fortalecimento das Reservas Extrativistas e Povos e Comunidades Tradicionais Extrativistas Costeiros e Marinhos (CONFREM Brasil), vem por meio desta manifestar repúdio e preocupação com publicação da Medida Provisória 1.303 de 11 de junho de 2025 que trata da tributação de aplicações financeiras e dentre os temas, altera a Lei 10.779 de 2003 que trata do seguro-desemprego para o pescador artesanal
Nos causa revolta ouvir o discurso de fraude generalizada, ignorando a realidade da pesca artesanal e a existência de cerca de 1,7 milhão de pescadores e pescadoras artesanais inscritos no Registro Geral da Pesca (RGP). Mais uma vez prevalece a tentativa de deslegitimação de uma categoria de trabalhadores e trabalhadoras, que são responsáveis por 60% da produção de pescado do país, colocando comida na mesa das famílias e contribuindo com a superação da miséria e da fome.
Assim como no ano de 2014, quando da publicação da Medida Provisória 665/2014 e posteriormente à publicação dos decretos 8424/2015 e 8425/2015, a mesma narrativa está sendo utilizada a fim de desmontar a política de reparação para a conservação e ordenamento dos estoques pesqueiros do nosso país, criminalizando justamente os pescadores e pescadoras artesanais, maiores protetores das pescarias e biodiversidade.
A MP 1303/2025 pretende transferir para as prefeituras a homologação do RGP, afim de atribuir a essa homologação, uma “certificação” de quem é e quem não é pescador. As prefeituras não possuem competência para essa designação, tão pouco dispõe de condições materiais e humanas para esse suporte.
Essa ação pelo contrário
pode favorecer o clientelismo, a velha politicagem e o favorecimento
de grupos que veem na pesca artesanal e nos pescadores e pescadoras,
oportunidade de lucros e votos, que em longo prazo comprometerá o
acesso dos pescadores e pescadoras ao seguro defeso. Repudiamos
veementemente esse medida assim, como toda a tentativa de
desmantelamento desse programa social e os seus impactos na pesca
artesanal.
Não aceitamos que o governo negocie tributos como o IOF e coloque o ônus sobre nossas costas. O seguro defeso historicamente foi mantido com recursos do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT), criado no âmbito da Constituição cidadã com o objetivo de proteger os trabalhadores e trabalhadoras. Dessa forma, é imprescindível garantir a plena disponibilização dos recursos da Seguridade Social para garantir as políticas sociais já previstas.
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O período de defeso é uma importante estratégia ambiental que garante a sustentabilidade das pescarias, ampliando a proteção das espécies e contribuindo para a preservação dos estoques pesqueiros e dos ecossistemas em consonância com os compromissos assumidos pelo Brasil em instancias internacionais, a exemplo da recente Conferência de Oceanos ocorrida em Nice, na França. Fragilizar essa política coloca em risco de insustentabilidade dezenas de espécies de pescado de águas marinhas e continentais, muitos deles constantes em listas de espécies controladas e sobre-explotados.
Em tempos de intensos debates sobre mudanças climáticas e as vésperas da COP 30, essa medida representa um grave retrocesso na gestão ambiental colocando o país no rol dos que fazem bons discursos, mas não implementam na prática.
Em governos anteriores de perfil antidemocrático, fomos criminalizados e perseguidos. Ironicamente, é no governo que sonhamos e lutamos para eleger que vemos serem implementadas medidas impopulares que atingirão mais de 1,7 milhão de trabalhadores e trabalhadoras.
Medidas como essa, sem diálogo com a sociedade, colocam em xeque a vida e a luta de milhares de comunidades pesqueiras espalhadas pelo Brasil. Os acordos para beneficiar os empresários não podem pôr em risco a biodiversidade nos rios e oceanos e criminalizar os pescadores e pescadoras artesanais do Brasil.
Seguimos mobilizados e mobilizadas afirmando nosso modo de vida e lutando para que os nossos direitos sejam mantidos e ampliados! As ruas já conhecem nossos passos e de lá não sairemos!
No rio e no mar, seguimos em luta.
Brasil, 18 de junho de 2025
Movimento dos Pescadores e Pescadoras Artesanais (MPP)
Comissão Nacional de Fortalecimento das Reservas Extrativistas e Povos e Comunidades Tradicionais Extrativistas Costeiros e Marinhos (CONFREM Brasil)
Entre
os principais pontos criticados estão a criação da chamada Licença por
Adesão e Compromisso (LAC), que dispensa avaliação técnica de órgãos
ambientais; a possibilidade de descentralizar as regras para estados e
municípios, muitas vezes mais vulneráveis às pressões de grandes
empresas; e a completa omissão quanto ao direito de Consulta Livre,
Prévia e Informada, previsto na Convenção 169 da OIT.
Para
o pescador artesanal Claudio Nunes, integrante do Movimento de
Pescadores e Pescadoras Artesanais do Litoral do Paraná (MOPEAR), há
desigualdade no acesso aos processos de licenciamento no Brasil. Ele
destacou que, enquanto empreendimentos que destroem manguezais e
ecossistemas conseguem autorização com facilidade, as comunidades
tradicionais enfrentam dificuldades até para obter licenças básicas,
como para acesso à energia elétrica. “No século XXI, a gente tem aqui 9,
10 comunidades sem energia elétrica, às escuras. Mas licenciamento para
construir portos, aeroportos, isso é muito fácil para eles.
Licenciamento para destruir manguezais, destruir a base das comunidades,
fazer dragagem, isso é muito fácil para eles liberarem”, denunciou.
Claudio agradeceu o apoio dos movimentos sociais e reforçou que a luta
contra o PL da Devastação é coletiva e necessária: “ninguém larga a mão
de ninguém até derrubar esse projeto”, ponderou Nunes.
Para
Andréa Rocha, secretária de Território e Meio Ambiente do CPP, o PL
2159/2021 aprofunda injustiças já vividas pelas comunidades tradicionais
e representa uma grave ameaça socioambiental. Segundo ela, “os
conflitos socioambientais ameaçam a manutenção dos ecossistemas, da
biodiversidade, do modo de vida dos povos e comunidades tradicionais no
Brasil, como as comunidades tradicionais pesqueiras, e também contribuem
para o que nós estamos vendo em relação à crise climática”. A
secretária afirma que é justamente por isso que o licenciamento
ambiental precisa ser fortalecido, e não enfraquecido, como propõe o
projeto. “Esse PL representa o agravamento das violações às comunidades
tradicionais e também da crise climática que estamos vivenciando”,
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