A análise de conjuntura foi realizada na tarde desta quinta-feira (21) pelos pescadores e pescadoras artesanais reunidos em Brasília
A conjuntura econômica, social e política do país foi o tema principal de discussão na tarde desta quinta-feira (21),durante o segundo dia de programação do 13º Grito da Pesca Artesanal, realizado em Brasília pelo Movimento de Pescadores e Pescadoras Artesanais (MPP).
A atividade contou com a presença de representantes do MPP, do Conselho Pastoral dos Pescadores e Pescadoras (CPP) e da Rede Eclesial Pan-Amazônica Brasil (Repam).
“O que estamos vivendo hoje no mundo é uma política estabelecida de extremo ataque ao que ainda resta na natureza, tudo em nome do lucro das grandes corporações, do setor industrial, financeiro e vários setores da mineração, portos e por aí vai, sem falar na ganância de grilar as terras públicas no litoral brasileiro para construção de resort e empreendimentos imobiliários”, observou Raimundo Siri, pescador artesanal da Ilha de Boipeba e da coordenação nacional do MPP.
Siri também falou sobre a ausência de políticas públicas para a pesca artesanal no país. “O Ministério da Pesca só pensa em criar peixe, camarão e importar peixe enquanto não tem olhos para a pesca artesanal”.
O resultado das eleições municipais que colocaram partidos de direita e centro-direita com a maior quantidade de prefeituras e vereadores eleitos foram alguns dos elementos abordados por Maria José Pacheco (Zezé), secretária-executiva do Conselho Pastoral dos Pescadores e Pescadoras (CPP) regional Bahia/Sergipe. Ela também falou sobre a disputa no Congresso, a atuação do governo federal, o avanço da extrema direita e a intensa propagação de fake news.
“Um outro elemento importante é que a mídia, os bancos têm trabalhado contra as políticas públicas e junto com o Congresso empurram o governo para o ajuste fiscal que diminui os recursos para as políticas de saúde, para a pesca artesanal, para a regularização quilombola. Temos que empurrar o governo para a garantia dos direitos daqueles que o elegeu, temos que defender o nosso território de vida e trabalho e enfrentar o racismo que justifica a negação de nossas identidades, dos nossos direitos para entregar os nossos territórios às grandes corporações”, defendeu Zezé.
Justiça Climática
A questão das mudanças climáticas, tema do 13º Grito da Pesca Artesanal, foi abordado na fala de Mayara Silva, da Rede Eclesial Pan-Amazônica Brasil (Repam).
“Extremamente importante trazer esse tema da mudança climática, justiça climática no ambiente do Grito da Pesca, uma vez que os efeitos da mudança do clima são sentidos principalmente pelas comunidades tradicionais, pelos povos indígenas, ribeirinhos, quebradeiras de coco, povos quilombolas, pessoas que estão na verdade na linha de frente da luta climática em seus territórios”, destacou.
Mayara Lima também ressaltou a importância da Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas de 2025, a COP30, que será realizada em Belém (PA). “Todos os olhos estarão voltados para a COP30 e é uma oportunidade para que a sociedade civil participe. É muito importante criar um processo de articulação de incidência em cima da pauta climática mostrando que parte das soluções vem dos territórios tradicionais”.
Fila do Povo
No debate, dezenas de pescadoras e pescadores artesanais apontaram problemas que estão vivenciando em suas comunidades. A jovem Tânia Rodrigues, de 20 anos, expôs a situação que a família tem vivido no Mato Grosso, na cidade de Barão de Melgaço.
“O meu estado está sofrendo com uma lei que chamamos de Cota Zero, que proíbe a pesca por cinco anos. Não podemos aceitar isso para nosso povo, devemos defender o direito dos nossos pescadores, de ter nossos rios e mares livres, onde já se viu pescadores serem tratados como criminosos, eu sou filha de pescadora, sobrinha de pescador, neta de pescador, e eu tenho orgulho de dizer isso, não tenho vergonha de dizer”, alertou Tânia, que é membro da Rede de Comunidades Tradicionais Pantaneira, que atua em Mato Grosso e Mato Grosso do Sul.
13º Grito da Pesca
Representante do Brasil no WFFP e da coordenação nacional do Movimento, Josana Pinto falou sobre a importância do Grito da Pesca Artesanal, que marchou pelas ruas de Brasília na manhã desta quinta-feira (21).
“Estamos sendo diretamente impactados pelas mudanças climáticas, e o nosso recado nas ruas de Brasília hoje foi pra dizer que não fomos nós que causamos essa mudança climática. Não somos nós que estamos colocando carcinicultura no nosso território, não somos nós pescadores que estamos criando peixes em tanque de forma desordenada. Então, o nosso recado ao governo foi de que não vamos aceitar nenhum direito a menos, viemos reivindicar os direitos porque a questão das emergências climáticas não são coisas do amanhã, é hoje, precisam reconhecer isso e o nosso recado foi esse”, afirmou.
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