quinta-feira, 17 de setembro de 2015

Na Bahia, mudanças no Lago de Sobradinho preocupam pescadores e pescadoras



Por Rizoneide Gomes e Tarcisio Silva - CPP Bahia

Pescadores/as do Lago de Sobradinho, no norte da Bahia, estão preocupados com as recentes mudanças nos territórios pesqueiros: a proliferação de algas, capins, lodo, mexilhão dourado e a redução do pescado. Esses fenômenos vêm causando danos ambientais, culturais e econômicos. 


É o caso de uma alga conhecida popularmente pelos pescadores como Rabo de Raposa, que vem se propagando tanto a montante quanto a jusante da Barragem de Sobradinho. Elas se prendem nas redes, deixando-as bastante  pesadas o que exige maior esforço físico por parte desses trabalhadores e aumenta suas jornadas de trabalho. Segunda a pescadora de Remanso-BA, Iranir dos Santos, em algumas áreas de pesca, pescadores/as não se arriscam a colocarem suas redes, pois o Rabo de Raposa impede a descida delas, dificultando a captura do pescado. Essa alga, juntamente com o lodo e um capim, que apareceu após a inundação da barragem, estão enroscando nos motores e impedindo o acesso a algumas áreas, levando essas pessoas a percorrem trajetos mais longos até os locais de pesca. Aliada a esses acontecimentos, tem a redução da produção pesqueira que já atinge milhares de famílias.  Estes problemas tem afetado drasticamente a renda das comunidades tradicionais pesqueiras, levando a uma situação de vulnerabilidade econômica e incertezas quanto ao futuro da atual e das novas gerações de pescadores desta região. 

Mexilhão Dourado / Foto: CPP Juazeiro
Outra situação que vem chamando a atenção de pescadores/as é a proliferação do Mexilhão Dourado (Limnoperna fortunei), originário da Ásia, ele chegou ao Brasil a partir da região Sul, preso às embarcações. Inicialmente foi localizado em rios e lagos do Rio Grande Sul, depois se expandiu para os rios Paraná e Uruguai e posteriormente foi encontrado em rios do Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. Não se tem informações oficiais sobre sua chegada ao rio São Francisco, mas segundo a pescadora Neuraci de Jesus, há dez anos, quando exercia a pesca artesanal na comunidade de Riacho dos Paes, município de Sento Sé-BA, esse Mexilhão já aparecia no casco de sua embarcação. No entanto, ela sente que nos últimos seis meses, o molusco vem se intensificado. Pescadores/as que atuam diretamente no Lago estão preocupados pois ele se fixa nas redes, embarcações e motores, causando transtornos e danos.  

Mexilhão preso em árvore / Foto: CPP Juazeiro
Assim como a pesca artesanal, a atividade da piscicultura, que até então era considerada segura, hoje se encontra ameaçada. Essa fragilidade se dá devido a permanecia dos tanques redes dentro d’água por até quatro meses sem manutenção. Esse período é necessário para o crescimento dos peixes. Com isso, os mexilhões vão se acumulando e o danificam. Esse tipo de molusco pode provocar mudanças e até a extinção de outras espécies, causando desequilíbrio nos diversos ecossistemas. É uma espécie invasora, que segundo pesquisadores, não há como acabar, mas já se tem algumas iniciativas no sentido de amenizar e evitar a proliferação para outras áreas. Não é o caso da região do Lago de Sobradinho, que até o momento não há nenhuma medida por parte das autoridades locais no sentido de acabar ou amenizar esse problema. 

Rio São Francisco ameaçado pelo avanço do Hidro e Agronegócio

Pescadores pelo São Francisco / Foto: CPP Juazeiro

Os problemas envolvendo o mundo da pesca artesanal estão vindo à tona no momento em que a vazão do Lago de Sobradinho e do rio São Francisco diminuem a cada dia, o que leva os pescadores da região à acreditarem que esse fator tem contribuído para o avanço das mudanças ambientais locais. Entretanto, observa-se que essa crise hídrica é fruto da falta de gestão da águas do rio São Francisco, pois assim como em outras regiões do país, o hidro e agronegócio crescem desenfreadamente acabando com nascentes e afluentes que alimentam as bacias hidrográficas. Segundo Almacks Luiz Silva, do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco, no oeste da Bahia, onde fica boa parte dos afluentes do rio São Francisco, entre os meses de janeiro e fevereiro de 2015, foi autorizada pelo poder público a supressão de 45.880,9537ha de vegetação nativa, enquanto que outras regiões somam 153,647ha. Essas áreas serão ocupadas pelos monocultivos, que provavelmente serão irrigados com pivô central, exigindo grande demanda de água. Ao longo de toda a Bacia, nota-se o avanço de grandes empreendimentos que colocam em risco a existência do rio São Francisco e ameaça a sustentabilidade, autonomia e vida do povo ribeirinho.

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