Frente ao desastre do óleo no litoral
do nordeste e outras regiões que já estão contaminadas, a difícil conjuntura
atual que afeta a classe trabalhadora e a categoria da pesca, após a Audiência Pública
na Câmara dos Deputados, militantes do MPP se reuniram para uma análise do
momento que o Brasil está vivendo.
“Temos um milhão de pescadores e
pescadoras no nosso país e mais de 400 mil vivem no Nordeste, são trabalhadores
e trabalhadoras que tem uma relação muito forte com a natureza, com o
território, com a tradição e são responsáveis pela movimentação econômica de
vários municípios”, argumentou o professor Cristiano Ramalho do Pernambuco. “Depois
do derramamento do óleo estão sofrendo uma grave crise, a queda da venda do
pescado é, no mínimo, de 80%”.
As consequências e os impactos desse
crime ambiental, segundo o professor, são terríveis para os homens mas,
devastadores para as mulheres, porque a maioria dos produtos capturados por
elas, como os mariscos, absorvem mais o óleo. E com as pescadoras sofrem,
também, as comunidades inteiras, porque a pesca não é só uma atividade
econômica, ela é uma forma de ser, de viver e se o território é condenado a
sofrer, a atividade da pesca artesanal é prejudicada e, consequentemente, a
identidade, a autonomia e a soberania dos povos das águas”.
“A garantia da segurança alimentar está
sendo atacada pelos grandes empresários e os comerciantes que estão difundindo
a ideia que os produtos da pesca artesanal estão contaminados, seguem o plano
perverso de suspender a pesca e bloquear a continuidade histórica das
comunidades pesqueiras”, afirmou o Professor da Universidade Federal.
Na mesma linha de alarme e grito, o
militante do MST, Alexandre Conceição, expressou a solidariedade do povo da
terra o qual, segundo ele, é complementário ao mundo da água e que, nesse
momento, quer fortalecer a parceria e a união para limitar os avanços do
capitalismo.
“Fazer análise de conjuntura é como
fazer uma rede de pesca, vamos colocar um pedaço após o outro, e assim vamos
entender que o que acontece está dentro da crise da América Latina onde o povo
está lutando para resistir e subverter a ordem dada pelo capital”, declarou o
militante.
A reflexão de Alexandre trouxe vários
elementos que caracterizam o governo Bolsonaro e que estão preocupando, sobretudo,
pela ‘desproteção’ do meio ambiente, cujo cuidado é fundamental para quem
trabalha com água e terra. Os exemplos são a reforma da previdência, a nova
medida verde-amarelo que vai entregar milhões de reais para os empresários
tirando-os do seguro desemprego e a venda do território os povos tradicionais para
investidores estrangeiros.
E ainda foram colocados os três
acidentes ambientais, os mais desastrosos dos últimos anos, Brumadinho, as
queimadas na Amazônia e o derramamento de óleo no litoral como episódios que
marcam um caminho perigoso que leva às mudanças climáticas e à destruição das
tradições a favor dos grandes projetos e das grandes empresas.
Segundo a Coordenadora Nacional do MPP,
Josana Pinto, que também compõe a mesa de análisea, esses projetos são projetos
de morte, como a mineração e a construção das barragens e tem como único
objetivo expulsar pescadores e pescadoras dos territórios ancestrais,
prejudicando a sustentabilidade, a sobrevivência e a tradição.
“É hora da gente se mobilizar contra
tudo isso, estamos em luta mas precisamos fazer mais, não podemos deixar espaço
ao conformismo, estamos perdendo território, é momento de libertação e de
sonhar juntos um sonho coletivo, de massa, de toda a sociedade”, concluiu
Josana.
Após da análise de conjuntura vários
representantes dos estados presentes fizeram o uso da fala trazendo histórias e
vivências até do interior do Ceará. “Tem um povo que ficou muito invisível, o
mais invisível de todos e que sofre muito também a causa das mineradoras, é o
povo dos açudes do sertão. Eles e elas também estão aqui presente na luta para
se somar a vocês e com a união superar esse momentos difícil”, afirmou Marciel
Melo, da Cáritas Diocesana de Crateús que desenvolve um projeto de resgate da
comunidade pesqueira dos açudes junto ao CPP no semiárido brasileiro.
Lorenza Strano, assessora
de comunicação da Cáritas de Crateús.
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