Em Carta lançada no dia de hoje (17/04), data Internacional da Luta Camponesa, o MPP avalia a Visita Solidária realizada às comunidades na bacia do rio Paraopeba e do rio São Francisco, que foi finalizada no dia de ontem (16/04). O documento aponta que no percurso do rio foi encontrado lama, lágrimas, mas também muita resistência popular contra a violação de direitos humanos coletivos das Comunidades Tradicionais Pesqueiras. O MPP assume o compromisso de manter viva, na memória do povo brasileiro, as diversas violações de direitos humanos cometidas pela Empresa Vale "contra as comunidades pesqueiras e seus modos de vida, contra os seus lugares sagrados, dos encantos e Encantados".
A carta também afirma que o MPP está em marcha contra os crimes do Agronegócio, Hidronegócio e Minerionegócio e em defesa dos territórios pesqueiros. "Nossos territórios são inegociáveis, nossas vidas não são descartáveis!".
Confira a carta na íntegra, logo abaixo!
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CARTA DAS ÁGUAS
“Das águas renascerá os teus sonhos,
De um novo destino,
Renascerá a nossa esperança por novos dias”
Adaptação da canção "Renascerá" de Zé Vicente
Nós, Povos das Águas, organizados/as no Movimento dos Pescadores e Pescadoras Artesanais/MPP, realizamos entre os dias 08 a 16 de abril de 2019, a Visita Solidária às Comunidades Tradicionais Pesqueiras atingidas pelo rompimento das barragens de rejeito da mina Córrego do Feijão em Brumadinho, Minas Gerais, no dia 25 de janeiro de 2019. O MPP percorreu 16 comunidades pesqueiras atingidas diretamente pelo Crime da Vale. No percurso do rio, lama, lágrimas e muita resistência popular contra a violação de direitos humanos coletivos das Comunidades Tradicionais Pesqueiras.
O modo de vida das comunidades tradicionais pesqueiras foi alterado com o derramamento de 12 milhões de lama de rejeitos que escorreram da barragem, matando o rio e os peixes, deixando várias famílias que viviam da pesca artesanal em situação de extrema pobreza. Escutamos os vários relatos de pescadoras e pescadores artesanais sobre seu cotidiano, agora marcado pelo adoecimento, com a presença de doenças de pele, depressão, estresse, doenças respiratórias, além do incômodo do forte cheiro das águas contaminadas por metais pesados. O sofrimento dessas comunidades se agrava com esse processo de contaminação, pela morte e adoecimento dos peixes, pois significou o empobrecimento de muitas comunidades, já que a pesca artesanal era a principal atividade desenvolvida, que alimentava inúmeras famílias. Esse é o cenário vivenciado por muitas comunidades pesqueiras vítimas dos Crimes da Vale.
O Movimento dos Pescadores e Pescadoras Artesanais do Brasil assume o compromisso de manter vivo, na memória do povo brasileiro, as diversas violações de direitos humanos cometidas pela Empresa Vale contra as comunidades pesqueiras e seus modos de vida, contra os seus lugares sagrados, dos encantos e Encantados. Os crimes que ocorreram em Mariana e Brumadinho não podem ficar na impunidade e no silêncio. Em nosso movimento está presente a memória, as lágrimas e os sonhos dos mortos e dos desaparecidos na Lama da Vale.
Seguimos o percurso das águas revoltosas por justiça para todas as vítimas dos diversos crimes da Vale. Nosso caminho é feito de resistência, esperança e teimosia, na construção de uma sociedade que respeite os bens comuns e os povos e comunidades tradicionais. Estamos em marcha contra os crimes do Agronegócio, Hidronegócio e Minerionegócio. Nossos territórios são inegociáveis, nossas vidas não são descartáveis!
No Rio e no Mar: Pescador na Luta!!!
Nos açudes e nas Barragens: Pescando Liberdade!!!
Hidronegócio: Resistir!!!
Cerca nas águas: Derrubar!!!
Comunidade Tradicional Quilombola Pesqueira de Croatá, Januária, Minas Gerais 17 de Abril de 2019 – Dia Internacional da Luta Camponesa
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