Durante quase cinco horas, os manifestantes dançaram torés, cantaram sambas e protestaram contra os projetos de lei que afetam aos povos e comunidades tradicionais. “A gente pode dizer que é um momento singular para o Movimento dos Pescadores e Pescadoras, porque a gente tem uma diversidade de outros povos originários, de quilombolas de vários estados do Brasil. Nós estamos também com uma boa representação, mostrando assim um caminho a ser consolidado, numa unidade dos povos e comunidades tradicionais do Brasil na luta por direitos, por território e por uma vida melhor”, explica o pescador João Batista dos Santos, liderança de Tatajuba (CE).
Entre as pautas específicas dos pescadores estava a reivindicação da suspensão dos cancelamentos dos Registros Gerais de Pesca (RGP) e a revogação dos Decretos 8424 e 8425, por violarem os direitos das pescadoras e pescadores artesanais.
Os manifestantes saíram do Palácio apenas depois que foi acordada uma reunião de 30 representantes dos povos com os ministros da Casa Civil, Eliseu Padilha, da Saúde, Ricardo Barros, da Segurança institucional, Sérgio Etchegoyen, da Justiça, Alexandre de Moraes e o então ministro da Secretaria de Governo, Geddel Vieira Lima, que viria a pedir demissão três dias após a ocupação do Palácio, devido ao escândalo político envolvendo o seu nome.
Para Elionice e outras lideranças que participaram da reunião, ficou claro que o governo não está aberto para o diálogo. “Saímos de lá constatando efetivamente aquilo que a gente já sabe: de que esse é um governo que não está disposto a atender os povos e comunidades tradicionais e suas demandas. Ficou mais claro que não dá para fazer meras negociatas sem um processo de incidência e de pressão forte”, reflete.
A mesma opinião é compartilhada pela liderança indígena do povo Gamela do Maranhão, Cuntum Gamela. “A conversa com os ministros do governo foi lamentável. De certo modo já se esperava isso. Os rumos desse Estado, desses governos têm sido sempre o mesmo: priorizar o agronegócio da soja, da cana, do eucalipto, da mineração. Hoje, avançando sobre os territórios pesqueiros, comunidades tradicionais, enfim, é o mesmo rumo de sempre do Estado brasileiro, nunca mudou. Desde o início da colonização até hoje é o mesmo Estado”, finaliza.
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