A noite do segundo dia (24/08) da Assembleia Nacional do MPP
teve um animado Festival de Músicas e Poesia. Os grandes talentos que existem
nas comunidades pesqueiras foram revelados para um público entusiasmado. Foram
inscritas 13 poesias e 11 canções no total. Os três primeiros colocados de cada
categoria foram premiados e fortemente aplaudidos pela plateia.
Boleros, sambas, forró e hip hop foram cantados e dançados
pelos participantes orgulhosos das suas produções. A participação dos jovens dentro
do evento merece destaque. Suas produções artísticas ficaram entre as primeiras
colocações nas duas categorias (música e poesia).
O trio de rap Uma
dose de rap, alcançou o primeiro lugar com a canção “Identidade
pesqueira”. Formado pelos jovens André
Luis Santos, Silvio Zaquel e Luis Paulo, da cidade baiana de Salinas da
Margarida, o trio apresenta, na música ganhadora, um discurso sobre a identidade do
pescador e a necessidade de preservar a biodiversidade. Além de serem autores
das letras, os jovens também foram responsáveis por criar as bases da música.
O segundo lugar ficou para a canção “Irmãos pescadores”, de
autoria de Domingos Barbosa Santana, mais conhecido como Tôco Pescador, da
cidade mineira de Ibiaí. Já a terceira
colocação foi para o forró “Chama acesa” de Luzanete Lima, da cidade cearense
de São Gonçalo do Amarante.
Entre as poesias, o primeiro colocado emocionou e foi super
aplaudido pelo público. De Camocim, no Ceará, o garoto Eduardo dos Santos, com
12 anos, recitou a poesia “O guerreiro pescador” de autoria de Antonia Maria
dos Santos, sua mãe. A declamação emocionada tocou a todos da plateia.
O segundo lugar ficou com a poesia “Bate o coração
da terra”, de autoria de Joice Miranda e Amigo Sapê do Norte, da cidade de
Aracruz, no Espírito Santo. Já o terceiro lugar ficou com a poesia “A história
continua”, de autoria de Viviane Souza, da cidade de Simões Filho (BA).
Mesmo não premiadas, outras canções e poesias receberam uma
resposta entusiasmada da plateia, resultado da qualidade das obras artísticas
apresentadas no festival. Uma das que mais foi aplaudida foi o samba “No
quilombo tem” de Joselita Gonçalves, pescadora de São Francisco do Conde (BA). Além
de cantar, Joselita mostrou que tem samba no pé e fez todos os participantes
sambarem.
Escola das Águas
A premiação do festival chamou a atenção para a forte
participação da juventude. Tanto os primeiros colocados na categoria canção,
quanto a terceira colocação na categoria poesia teve a participação de jovens
engajados, participantes ativos do Movimento dos Pescadores e Pescadoras (MPP).
“Tudo começou pra gente na Escola das Águas. Foi lá que eu
conheci as lutas, o MPP e me tornei militante do movimento”, explica o pescador
e rapper de Salinas da Margarida (BA), André Luiz, ganhador da primeira
colocação na categoria canção, juntamente com os seus companheiros Silvio
Zaquel e Luis Paulo, membros do trio Uma
dose de rap.
“A Escola das Águas nasce do sonho de D. Maria do Paraguassu. Ela sonhava com uma escola que trabalhasse a leitura e escrita, mas
que oferecesse formação política também”, conta Elionice Sacramento, uma das
militantes do MPP responsável por acompanhar a Comissão que coordena a Escola,
formada pelos próprios jovens que participam do centro de formação.
Sediada em Acupe, no Recôncavo Baiano, a escola teve início em
2011, com apoios de organizações como o Conselho Pastoral dos Pescadores (CPP),
a CESE (Conferência Ecumênica de Serviço), Fundo CASA e Bahia Pesca. Atualmente
30 jovens de oito municípios da Bahia, das regiões do Baixo Sul, do Recôncavo e
da região metropolitana fazem parte da Escola das Águas. Já houve participação
de jovens das regiões do Sul, Extremo Sul da Bahia e da bacia do São
Francisco.
“A escola tem mostrado a importância da formação para o
crescimento do MPP e também da auto-estima e da identidade pesqueira desses
jovens. É uma formação que dialoga com os nossos saberes tradicionais”,
defende Elionice Sacramento.
Os resultados dessa formação podem ser percebidos não apenas
nas primeiras colocações do Festival de Músicas e Poesia, mas também na forte
presença de jovens na delegação da Bahia. Eles são cerca de 40% do total de representantes do estado que foram para a Assembleia. Alguns dos
jovens concluíram o ensino médio e ingressaram em cursos universitários a
partir da entrada na Escola das Águas. Elionice também aponta que os jovens
estão presentes nas articulações políticas, assumindo responsabilidades dentro
do movimento. Como conquista recente, os jovens da Escola das Águas, juntamente
com militantes do MPP de outros estados, deram mais um passo para o fortalecimento
político dentro do movimento: a criação da Articulação Nacional da Juventude.
Para o futuro, há a intenção de ampliar a Escola das Águas
para outros estados. “Nós temos acreditado muito nessa proposta, de ter
futuramente uma escola nacional de formação, que tenha um olhar sobre os povos
das águas”, afirma Elionice Sacramento. Se o sonho for concretizado, mais
protagonismo juvenil pode ser esperado dentro do MPP.
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