quinta-feira, 25 de agosto de 2016

Festival de Música e Poesia anima Assembleia do MPP e revela talentos artísticos das comunidades pesqueiras

A noite do segundo dia (24/08) da Assembleia Nacional do MPP teve um animado Festival de Músicas e Poesia. Os grandes talentos que existem nas comunidades pesqueiras foram revelados para um público entusiasmado. Foram inscritas 13 poesias e 11 canções no total. Os três primeiros colocados de cada categoria foram premiados e fortemente aplaudidos pela plateia.


Boleros, sambas, forró e hip hop foram cantados e dançados pelos participantes orgulhosos das suas produções. A participação dos jovens dentro do evento merece destaque. Suas produções artísticas ficaram entre as primeiras colocações nas duas categorias (música e poesia).

O trio de rap Uma dose de rap, alcançou o primeiro lugar com a canção “Identidade pesqueira”.  Formado pelos jovens André Luis Santos, Silvio Zaquel e Luis Paulo, da cidade baiana de Salinas da Margarida, o trio apresenta, na música ganhadora, um discurso sobre a identidade do pescador e a necessidade de preservar a biodiversidade. Além de serem autores das letras, os jovens também foram responsáveis por criar as bases da música.

O segundo lugar ficou para a canção “Irmãos pescadores”, de autoria de Domingos Barbosa Santana, mais conhecido como Tôco Pescador, da cidade mineira de Ibiaí.  Já a terceira colocação foi para o forró “Chama acesa” de Luzanete Lima, da cidade cearense de São Gonçalo do Amarante.

Entre as poesias, o primeiro colocado emocionou e foi super aplaudido pelo público. De Camocim, no Ceará, o garoto Eduardo dos Santos, com 12 anos, recitou a poesia “O guerreiro pescador” de autoria de Antonia Maria dos Santos, sua mãe. A declamação emocionada tocou a todos da plateia. 

O segundo lugar ficou com a poesia “Bate o coração da terra”, de autoria de Joice Miranda e Amigo Sapê do Norte, da cidade de Aracruz, no Espírito Santo. Já o terceiro lugar ficou com a poesia “A história continua”, de autoria de Viviane Souza, da cidade de Simões Filho (BA).

Mesmo não premiadas, outras canções e poesias receberam uma resposta entusiasmada da plateia, resultado da qualidade das obras artísticas apresentadas no festival. Uma das que mais foi aplaudida foi o samba “No quilombo tem” de Joselita Gonçalves, pescadora de São Francisco do Conde (BA). Além de cantar, Joselita mostrou que tem samba no pé e fez todos os participantes sambarem.






Escola das Águas
A premiação do festival chamou a atenção para a forte participação da juventude. Tanto os primeiros colocados na categoria canção, quanto a terceira colocação na categoria poesia teve a participação de jovens engajados, participantes ativos do Movimento dos Pescadores e Pescadoras (MPP).

As duas premiações não foram mera coincidência, os jovens contemplados fazem parte da “Escola das Águas”, um espaço de formação dentro do MPP da Bahia, que desde 2011 tem ajudado na formação política de jovens das comunidades pesqueiras e na preservação do conhecimento tradicional dos povos das águas.

“Tudo começou pra gente na Escola das Águas. Foi lá que eu conheci as lutas, o MPP e me tornei militante do movimento”, explica o pescador e rapper de Salinas da Margarida (BA), André Luiz, ganhador da primeira colocação na categoria canção, juntamente com os seus companheiros Silvio Zaquel e Luis Paulo, membros do trio Uma dose de rap.

“A Escola das Águas nasce do sonho de D. Maria do Paraguassu. Ela sonhava com uma escola que trabalhasse a leitura e escrita, mas que oferecesse formação política também”, conta Elionice Sacramento, uma das militantes do MPP responsável por acompanhar a Comissão que coordena a Escola, formada pelos próprios jovens que participam do centro de formação.

Sediada em Acupe, no Recôncavo Baiano, a escola teve início em 2011, com apoios de organizações como o Conselho Pastoral dos Pescadores (CPP), a CESE (Conferência Ecumênica de Serviço), Fundo CASA e Bahia Pesca. Atualmente 30 jovens de oito municípios da Bahia, das regiões do Baixo Sul, do Recôncavo e da região metropolitana fazem parte da Escola das Águas. Já houve participação de jovens das regiões do Sul, Extremo Sul da Bahia e da bacia do São Francisco.

“A escola tem mostrado a importância da formação para o crescimento do MPP e também da auto-estima e da identidade pesqueira desses jovens. É uma formação que dialoga com os nossos saberes tradicionais”, defende Elionice Sacramento.

Os resultados dessa formação podem ser percebidos não apenas nas primeiras colocações do Festival de Músicas e Poesia, mas também na forte presença de jovens na delegação da Bahia. Eles são cerca de 40% do total de representantes do estado que foram para a Assembleia. Alguns dos jovens concluíram o ensino médio e ingressaram em cursos universitários a partir da entrada na Escola das Águas. Elionice também aponta que os jovens estão presentes nas articulações políticas, assumindo responsabilidades dentro do movimento. Como conquista recente, os jovens da Escola das Águas, juntamente com militantes do MPP de outros estados, deram mais um passo para o fortalecimento político dentro do movimento: a criação da Articulação Nacional da Juventude.

Para o futuro, há a intenção de ampliar a Escola das Águas para outros estados. “Nós temos acreditado muito nessa proposta, de ter futuramente uma escola nacional de formação, que tenha um olhar sobre os povos das águas”, afirma Elionice Sacramento. Se o sonho for concretizado, mais protagonismo juvenil pode ser esperado dentro do MPP. 

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