A publicação traz dados de conflitos
em 14 estados brasileiros e aponta que o modo de vida das comunidades
pesqueiras está ameaçado
O
Conselho Pastoral dos Pescadores (CPP) lançará amanhã (13/07), na sede da CNBB,
em Brasília, o relatório dos Conflitos Socioambientais e Violações de
Direitos Humanos em Territórios Tradicionais Pesqueiros no Brasil. A
publicação reúne dados sobre os principais conflitos ambientais envolvendo
comunidades pesqueiras em 14 estados brasileiros (Alagoas, Amazonas, Bahia,
Ceará, Espirito Santo, Maranhão, Minas Gerais, Pará, Pernambuco, Piauí, Rio de
Janeiro, Rio Grande do Norte, Santa Catarina e Sergipe).
Os
levantamentos realizados apontam cerca de 150 comunidades atingidas, num total de mais de 160
mil famílias ameaçadas. Há casos que incluem ameaças de morte e homicídios, que
tem 7 ocorrências registradas pelo relatório. A publicação indica ainda que a
política neodesenvolvimentista assumida pelo governo brasileiro, nos últimos
dez anos, intensificou os conflitos nas comunidades pesqueiras. Por esse
motivo, o principal objetivo da publicação é dar visibilidade à essas
comunidades com identidades tradicionais coletivas, inseridas em territórios deflagrados
por violentos conflitos.
Alzení Tomaz, uma das responsáveis pela organização
e sistematização dos dados, avalia que esse ponto é um dos principais diferenciais
dos conflitos que envolvem os pescadores. “As comunidades de pescadores são
invisíveis enquanto identidade tradicional. O Estado vê os pescadores apenas
como uma categoria de trabalhadores e ignora que os pescadores carregam toda
uma ancestralidade e um arcabouço de tecnologias de pesca artesanal
sustentáveis, repassadas de pais e mães para filhos e filhas”, explica Tomáz.
Na ocasião do lançamento, pescadores e pescadoras
ameaçados por conflitos e representantes do CPP participarão do evento.
Conflitos
Empresas privadas, fazendeiros e empresas públicas
são os principais causadores de conflitos nas comunidades pesqueiras. Entre os
empreendimentos responsáveis pelos diferentes tipos de conflitos sistematizados
pelo relatório, encontram-se: privatização de terras públicas, empreendimentos
turísticos, parques eólicos, carcinicultura, especulação imobiliária, impedimento
de acesso aos rios e mares, indústria naval e petrolífera, pesca industrial,
dentre outros.
Como exemplos de conflitos mais emblemáticos, relatados na publicação, encontram-se
os problemas enfrentados pelos pescadores de Pernambuco com as atividades do
complexo portuário de Suape; a resistência da comunidade quilombola de Rio dos
Macacos, no município de Simões Filho (BA), em conflito com a Marinha; os mais
de cem conflitos na Baía de todos os Santos, na Bahia; os conflitos gerados pelas
barragens na bacia do rio São Francisco e os conflitos enfrentados pelos
pescadores do Rio de Janeiro nas baías de Sepetiba e de Guanabara com a
indústria naval e petrolífera, que resultou em 4 homicídios, entre tantos
outros casos apontados pelo Relatório.
A comunidade de Cajueiro, localizada nas proximidades da ilha de São
Luís, no Maranhão, é um exemplo das violências enfrentadas pelos pescadores e
pescadoras. A comunidade tem sofrido ameaças graves pela tentativa do governo
maranhense de construir um porto na região. Mais de 200 famílias de pescadores,
agricultores e extrativistas vivem na área que abriga o mais antigo lugar de
culto afro na ilha do Maranhão, o Terreiro do Egito. A construtora WPR São Luís,
responsável pela construção do porto, tem se utilizado de milícias armadas e de
intimidação e ameaças para retirar a comunidade do local. “É importante dar
visibilidade a esses conflitos, porque não dá para o governo chegar passando
por cima da gente”, fala Clóvis da Silva, pescador da comunidade do Cajueiro e liderança
do Movimento dos Pescadores e Pescadoras Artesanais Nacional (MPP).
Além de dados sobre as famílias atingidas, os tipos e os causadores de
conflitos, a publicação também traz informações sobre as ações de enfrentamento
realizadas pelas comunidades pesqueiras e pelos grupos de apoiadores e
parceiros das comunidades.
“Para essas comunidades existirem, elas precisam resistir. Por isso,
buscam alternativas e lutam para que haja um marco legal na formalização do
direito ao território pesqueiro”, explica Tomáz. Segundo ela, os territórios
pesqueiros são territórios ecológicos. “Os pescadores artesanais estão
inseridos em lugares de terra e águas públicos que estão sendo usurpados por
setores públicos e privados para implantar os grandes empreendimentos do
capital”, diz.
No relatório, essa informação é explicitada: “Estes conflitos todos
revelam que os territórios não estão sendo dominados e expropriados de forma
pacífica. Eles representam vidas interrompidas, homicídios, perseguições,
torturas e despejos realizados por parte do Judiciário e pelas milícias
particulares”. A conclusão do relatório é de que o modo de vida das comunidades
tradicionais de pescadores está em risco porque os ecossistemas são vistos como
mercadorias e as comunidades como intrusas ao “desenvolvimento” e o progresso.
Sobre o
Conselho Pastoral dos Pescadores
O Conselho Pastoral dos Pescadores é uma Pastoral
Social e está ligado à Comissão Episcopal para o Serviço da Caridade, Justiça e
Paz da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil. Com espírito ecumênico,
realiza um trabalho de mais de quatro décadas a serviço dos Pescadores e
Pescadoras do Brasil e está presente em vários estados brasileiros.
Serviço
O que: Lançamento
do Relatório de Conflitos Socioambientais e Violações de Direitos Humanos em
comunidades Tradicionais Pesqueiras no Brasil
Onde: Sede da
CNBB em Brasília - SES, Setor de Embaixadas Sul 801 Conjunto B - St. de
Embaixadas Sul - Brasília, DF.
Quando: 13 de julho
de 2016, às 15 horas
No Brasil não temos forca suficiente para lutar com uma tyrssem grupo. Da vida .pecador e militante baia de Sepetiba.
ResponderExcluirParabenizo todos(as) envolvidos (as). Queria saber como posso ter acesso ao relatório? atenciosamente.
ResponderExcluirTambém gostaria de ter acesso ao relatório. Ótima iniciativa.
ResponderExcluirSou professora de Geografia na UFES e trabalho com comunidades tradicionais em conflito com projetos desenvolvimentistas no estado do ES. Participo e divulgo a campanha pela demarcação dos territórios pesqueiros. Como posso ter acesso ao relatório? Me interessa muito. Grata, Simone Raquel Batista Ferreira
ResponderExcluirImportante publicação, parabéns!! Como posso fazer para adquirir um exemplar?
ResponderExcluirObrigado!
Olá, sou estudante da Pós Graduação em Geografia da UFF e pesquiso a comunidade tradicional pesqueira de Arraial do Cabo/RJ que é atravessada pelos mais diversos interesses desenvolvimentistas em seu território: agentes econômicos do Petróleo, fenômeno do Turismo e os impactos de sua forma exploratória, juntamente com os agentes imobiliários, empresas de turismo náutico, operadoras de mergulho e atividades esportivas, além das intervenções constantes da legislação ambiental, através do ICMBio, que faz o manejo do uso da Reserva Extrativista Marinha de Arraial do Cabo que recobre toda a lâmina d'água do município.
ResponderExcluirGostaria de ter acesso ao relatório para compôr a minha pesquisa e também para apresentar aos pescadores/as que não conhecem o MPP. Pretendo levar o abaixo assinado para, ao final das entrevistas, mostrar às lideranças do município. Como faço para obter o material?