Navio estrangeiro carregado de gases tóxicos explode no Porto de Aratu
provocando terror nas comunidades pesqueiras e quilombolas da Ilha de Maré
Nós do Movimento dos Pescadores e
Pescadoras Artesanais, no contexto da Campanha pela Regularização dos
Territórios das comunidades Tradicionais Pesqueiras, vimos a público manifestar
repúdio e indignação ao grave acidente ocorrido no Porto de Aratu instalado nas
proximidades das comunidades pesqueiras e quilombolas da Ilha de Maré –
Salvador. Dia 17/12/13, por volta das 17h, as comunidades foram surpreendidas
com a forte explosão do navio estrangeiro Golden Miller, com bandeira das
Barramas, carregado com gases tóxicos ancorado no Píer da Petrobras, localizado
no Porto de Aratu.
Em pânico, a população local saiu às
ruas desesperada. Muitas pessoas sofreram náuseas, vômitos, tonturas e fortes
dores na cabeça e abandonaram suas casas buscando abrigo nas casas de
familiares em Candeias e Salvador. Mesmo após 24h do ocorrido, ainda era
possível ver labaredas de fogo e imensas nuvens de fumaça. Num raio de
aproximadamente 2 km, podem ser observadas manchas de óleo contaminando as
águas da Baia de Todos os Santos, matando peixes e mariscos e deixando um
passivo ambiental de difícil e demorada recuperação. Ainda existe forte risco
de novas explosões em razão da concentração de tanques de gases diversos e
outras substâncias químicas.
A explosão deste navio foi uma
“tragédia anunciada” que tem como consequência o agravamento da contaminação da
população local devido a inalação dos gases tóxicos e a contaminação das águas,
manguezais, peixes, mariscos e crustáceos. A poluição dos pescados trará
prejuízos econômicos substanciais para as comunidades, haja vista que a pesca
artesanal é a sua principal atividade econômica.
Desde o início do acidente não houver
quaisquer planos de fuga ou de informação sobre riscos e segurança nas
comunidades circunvizinhas, demonstrando o profundo descaso dos órgãos
ambientais e das empresas com relação às comunidades tradicionais locais.
Tornou-se evidente o despreparo do poder público e das empresas em controlar
situações críticas que representem risco para a vida humana e os ecossistemas
da região.
Nos últimos 10 anos, nós das
comunidades de Ilha de Maré temos incidido fortemente sobre o Ministério
Publico Estadual e sob os órgãos ambientais. Temos denunciando os crimes
ambientais, os sucessivos acidentes, a contaminação do ambiente e das pessoas.
Alertamos os poderes públicos sobre os riscos provocados pela total falta de
controle e tratamento dos efluentes que são jogados no mar e a falta do
controle da poluição atmosférica que não leva em consideração a população do
entorno do Porto de Aratu.
As denúncias realizadas pelas
comunidades estão fundamentadas em estudos científicos que comprovam a
contaminação da população por metais pesados e danos à saúde caudados pela
poluição atmosférica. Toda esta situação já levou pessoas à morte; tem causado
o aumento do número de pessoas com asma e infecções respiratórias; e elevado a
incidência de câncer, levando pessoas jovens à morte.
Nossa pressão e incidência sobre o
Ministério Público resultou, em 2010, no monitoramento da poluição atmosférica
por um ano, demonstrando a grave situação de poluição. Contudo, até hoje, este
monitoramento não produziu resultados que alterasse o quadro acima exposto.
Exigimos urgente providencias, pois nossas vidas estão em risco.
Esclarecemos que acidentes ambientais
ligados a desembarque de navios ocorrem constantemente ao longo dos anos e é
por conta desta situação que estudos ambientais indicam esta área como uma das
mais poluídas da Baía de todos os Santos. A gravidade desta explosão poderia
ter se espalhado pelos outros reservatórios de produtos muito mais nocivos à
saúde e ao ambiente, retrata a vulnerabilidade socioambiental em que se
encontram as comunidades pesqueiras e quilombolas de Ilha de Maré e entorno.
Revelam também o desrespeito aos seus direitos constituídos caracterizando um
quadro de racismo institucional e ambiental praticado pelas instituições
públicas e privadas em nosso país.
Diante de mais um trágico acidente
exigimos:
A proibição de manipulação de
substâncias que impliquem em dano e risco à saúde da população dado à
proximidade do Porto de Aratú com um contingente grande de população local,
comunidades negras tradicionais que dependem do meio ambiente para a sua
sobrevivência;
Apuração imediata das causas e
consequências socioambientais deste trágico acidente, com a realização de uma
auditoria independente com participação ativa das comunidades do entorno, como
medida de segurança para evitando novas explosões e danos ambientais;
Efetivação de monitoramento
permanente da atividade do Porto de Aratú por pesquisadores, empresas e órgãos
independentes, com participação efetiva das comunidades afetadas;
A construção imediata do plano de
risco e segurança para as comunidades do entorno, com orientações sobre
procedimentos, planos de fuga, disponibilizando equipamentos de proteção
individual de segurança para todas as famílias;
Reparação dos danos sociais,
econômicos e ambientais às comunidades e punição aos causadores deste crime
ambiental;
Instalação de unidade hospitalar e
ambulatorial permanente na Ilha de Maré para atender as demandas específicas da
população local em razão da exposição cumulativa aos contaminantes e ao
constante risco de contaminação por gases e substâncias químicas diversas;
A urgente avaliação da contaminação
de toda população de Ilha de Maré,
Implantação de serviço de ambulancha
de qualidade para atender exclusivamente as demandas dos moradores da Ilha de
Maré.
NO RIO E NO MAR / PESCADOR(A) NA
LUTA!
TERRITÓRIOS PESQUEIROS LIVRES JÁ!
Nenhum comentário:
Postar um comentário