Foto: Acervo MPP |
No período de 11 a 20 de dezembro, o Movimento de Pescadores e Pescadoras Artesanais (MPP) do Pará realizou visitas de escuta em regiões próximas a Belém. Os municípios de Abaetetuba e Limoeiro do Ajuru foram visitados, assim como as comunidades da Ilha do Capim, Ilha do Cardoso, Goiabal, Ilha Rio das Flores e Ilha do Sacará receberam o movimento. Realidades locais da pesca artesanal foram debatidas com as famílias pesqueiras.
Para a pescadora paraense e integrante do MPP, Josana Pinto da Costa, a ação realizada ao final do ano passado foi muito importante porque trouxe a “realidade de pescadores e pescadoras locais”. Segundo ela, 32 pessoas participaram da reunião realizada na Ilha do Cardoso, principalmente a juventude.
No local, a única espécie que garante o acordo de pesca no lugar é o peixe mapará e as famílias já enfrentam a escassez das espécies por conta de longos anos de pesca predatória.“Hoje em dia a gente tem uma realidade muito diferente do que antigamente era. Quando a gente ia para as ilhas vinha com os barcos cheios e agora para conseguir 2 quilos de peixe já é muito”, diz o pescador artesanal Iranilson Leão Costa.
O medo de perder o território está presente na maioria dos relatos feitos pelas famílias pescadoras. Em Goiabal, por exemplo, elas trouxeram a preocupação com uma dragagem que pode ser realizada no Rio Tocantins pelos governos federal e estadual em parceria com empresas privadas. Caso a obra ocorra, os impactos negativos seriam significativos em suas vidas.
Já na Ilha do Saracá, também por conta da pesca predatória, a renda maior vem do açaí porque os pescados têm diminuído bastante. Acontece que o cultivo do açaí tem acontecido por meio da monocultura e muitas plantas nativas acabam por ser desmatadas para dar lugar às plantações. Famílias têm se mobilizado promovendo ações de replantio das espécies vegetação local.
Lá, as pessoas também enfrentam as mesmas questões anteriormente citadas. Há 14 acordos de pesca dos quais o Conselho Pastoral dos Pescadores (CPP) acompanha 4, mas estes acordos são muito diferentes da região do Baixo Amazônas, segundo o MPP.
As pescadoras e os pescadores da comunidade se sentem com pouca participação e benefícios. A maioria da renda vai para os donos de redes que têm de fato o acesso à pesca e a pesca artesanal fica apenas com recursos que mal suprem a alimentação.
Josana afirma que o MPP classifica essas experiências como negativas, porque elas não trazem “aumento do estoque pesqueiro e isso significa que tudo o que vai para rede é capturado”. “É um acordo que beneficia poucos, um acordo de pesca predatória”, acrescenta a integrante do MPP.
Todas as escutas feitas com as comunidades foram documentadas pelo movimento e servem como base para a luta pelas causas das pescadoras e dos pescadores artesanais. São questões que serão acompanhadas com o objetivo de construir realidades mais justas e sustentáveis para as famílias pesqueiras e o meio ambiente.
Foto: Acervo MPP |
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