
A pescadora Rita de Cássia da Silva, que faz parte da rede Manguemar e do Movimento dos Pescadores e Pescadoras artesanais (MPP) relatou como grandes empreendimentos tem prejudicado a pesca em Macau, no Rio Grande do Norte. "Temos conflito com a CAERN, a empresa de saneamento básico do Rio Grande do Norte, com a carcinicultura e com as usinas de energia eólica. Eles chegam colocando cercas, expulsando gente de quilombo. Nós queremos um saneamento básico que respeite a nossa tradição", defende Rita.
Rita apontou também a preocupação dela com o mangue. "Esse povo de fora chega e destroi o nosso mangue, que é berçário de várias espécies. ".
A secretária-executiva do Conselho Pastoral dos Pescadores nacional, Ormezita Barbosa, trouxe dados gerais sobre os vários empreendimentos que têm privatizado as águas e que têm prejudicado as comunidades pesqueiras em várias partes do país. "Os territórios pesqueiros têm sido alvos do capital. O nordeste têm sido bastante prejudicado pelas usinas eólicas. A mudança no código florestal fez com que a carcinicultura voltasse com força, destruindo várias áreas de mangue. A mineração tem causado todos esses impactos no Rio Doce e mais recentemente em Barcarena (PA). Também há conflitos ligados à indústrial naval".
Ormezita também apresentou a tentativa de implantação de um grande empreendimento de aquicultura feita pelo antigo Ministério da Pesca e Aquicultura (MPA), no estado de Pernambuco. Apesar de não ter dado certo, o modelo que ali foi pensado permanece nas atuais políticas do Estado para a pesca. "Há uma perspectiva de manter os projetos de privatização das águas, mesmo após o fim do MPA. Os empresários da aquicultura pedem para deixarem de ser da pasta da pesca e passarem a ser do Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento (MAPA), o que pode piorar ainda mais o processo de implantação desses empreendimentos", critica.
Ormezita ainda se preocupa com a atual situação de privatização das águas. "Por esse motivo, vamos lançar até o fim do ano um segundo relatório de conflitos socioambientais que dê vidibilidade aos conflitos das comunidades pesqueiras por água", prometeu.
Para o pescador Manoel Bueno do MPP, mais conhecido como Nego da Pesca, discutir a privatização da água, que é o objetivo do FAMA, era algo impensado até algum tempo atrás. "Jamais pensei ter que discutir a perda do direito à água", lamenta. Ele lembrou dos perigos da privatização causados pela indústria petrolífera. "Os estados do Rio de Janeiro, Bahia e Espírito Santo estão já mapeados pela indústria petrolífera. Os problemas já começam no momento de implantação, quando são feitas as pesquisas sísmicas, que impactam as nossas águas. Esse é o modelo de desenvolvimento que vivemos hoje no Brasil", critica.
Nego também lembrou dos impactos do crime da Samarco nos estados de Minas Gerais e Espírito Santo, que já começam a se alastrar para os estados da Bahia e do Rio de Janeiro. "Nada foi feito para interromper o crime de Mariana. O MPF parece que não tem mais força. Precisamos nos juntar para arrumar uma forma de ultrapassarmos essas barreiras", defende Nego.

Carlos alertou para as graves consequências do crime da mineradora Samarco, em Mariana (MG). "O risco de contaminação é enorme, porque peixes que se reproduzem no Rio Doce são alimentos dos peixes marinhos daquela região. Além disso, essa situação que aconteceu em Mariana (MG) está ameaçando causar danos em Abrolhos (BA), o lugar de maior biodiversidade do Atlântico Sul", denunciou.
Carlos defendeu a importância da realização do FAMA. "É importante lembrar que enquanto estamos discutindo o direito ao uso público da água, outro Fórum acontece com o interesse de privatizar as nossas águas", alertou.

Josana alerta para os mais diferentes tipos de privatização das águas. "Estamos vivendo um intenso momento de retrocessos e nós brasileiros estamos adormecidos. Se já vivemos todos esses perigos com a privatização das águas de superfície, imagine com a privatização das águas subterrâneas, como as do aquífero Guarani", alerta. "Queremos ser pescadores com vida e história. Temos que ficar atentos, preparados e unidos para lutar. Porque ou a gente luta ou a gente morre!", finalizou.
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