Documento emitido pela SPU permite que pescadores continuem ocupando áreas da União, tradicionalmente habitadas pelas comunidades

Com territórios localizados às margens do rio São Francisco, área considerada da União, a TAUS seria uma concessão do Estado que garantiria a permanência dessas comunidades tradicionais nas suas terras. Os pescadores de Canabrava estão enfrentando desde o mês de agosto uma série de despejos que colocam a vida da comunidade em risco. Refugiados atualmente na ilha da Esperança, em pleno rio São Francisco, sem água para beber e sem condições de plantar, os pescadores se encontram em situação bem precária. Além disso, decisões judiciais recentes têm criminalizado as lideranças da comunidade e os agentes do Conselho Pastoral dos Pescadores (CPP), organização que tem apoiado a comunidade na luta pela garantia do seu território.
Junto com Canabrava, participam da manifestação, as comunidades de Barrinha, Maria Preta e Cabaceiras, do município de Itacarambi (MG), Caraíbas do município de Pedras de Maria da Cruz (MG) e Croatá do município de Januária (MG), todas comunidades pesqueiras localizadas às margens do Rio São Francisco.
Conflitos agrários no norte de Minas Gerais

Histórico

No dia 20 de julho, os próprios fazendeiros, herdeiros do espólio de Breno Gonzaga Junior, que reivindicam a propriedade da área, juntaram-se com um grupo de jagunços para concluírem, ao seu modo, a ação de reintegração de posse, ainda com o mandado suspenso judicialmente. os moradores que ali se encontravam foram retirados violentamente, casas foram destruídas junto com os alimentos e as roças e objetos e animais de criação foram saqueados.
No dia 04 de agosto a comunidade voltou ao território após a visita in loco de técnicos da Secretaria do Patrimônio da União (SPU), confirmando que as famílias estavam em área indubitável da União, por isso não pertencente ao fazendeiro. O perito técnico do Ministério Público Federal também confirmou em relatório a tradicionalidade da comunidade. Registros mostram que eles convivem na região há cerca de um século, pelo menos.
No dia 24 de agosto, O vencimento da liminar que suspendeu a reintegração de posse, levou os pescadores a sofrerem mais um despejo. No dia seguinte, tiros foram disparados contra os moradores que se encontravam na ilha da Esperança.
No dia 07 de outubro, a comunidade tentou retomar o seu território tradicional, do qual haviam sido expulsos. A falta de comida, água potável e a vulnerabilidade ocasionada pelas ameaças de chuva e dos capangas do fazendeiro da região, motivaram a retomada.
No dia 9 de outubro, uma decisão judicial ordenou a abertura de inquérito contra pescadores da comunidade e contra agentes do Conselho Pastoral dos Pescadores. A decisão fez com que os pescadores desocupassem mais uma vez o seu território tradicional localizado em terras públicas da União, na beira do rio São Francisco, por medo das ameaças de criminalização e de multas. O Desembargador Antônio Bispo, do Tribunal de Justiça de Minas Gerais, deu ordem para instauração de inquérito contra a liderança da comunidade, Edmar Gomes da Silva e contra os agentes do Conselho Pastoral dos Pescadores (CPP). Ainda no dia 9 de outubro, policiais da PM de Minas Gerais estiveram no território para revistaram a comunidade após denúncia do fazendeiro de que os pescadores estavam armados. Disseram que estavam fazendo busca de arma. Após nada encontrar, a PM foi embora.
Na manhã de 19 de outubro mais uma ameaça por parte dos fazendeiros locais. Segundo informações dos comunitários, um grupo de policiais militares visitou a ilha da Esperança, juntamente com fazendeiro local, e ameaçou prendê-los. Os policiais também falaram que os pescadores teriam que sair da ilha.
No dia 9 de novembro, a SPU negou a TAUS à comunidade, o que motivou a manifestação na manhã dessa segunda-feira.
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