CARTA ABERTA DOS POVOS DO
SÃO FRANCISCO
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Foto: Méle Dornelas / CPP Nacional |
“Crescemos a pensar que éramos seus proprietários
e dominadores, autorizados a saqueá-la. Por isso, entre os pobres mais
abandonados e maltratados, conta-se a nossa terra oprimida e devastada, que
«geme e sofre as dores do parto» (Rm 8, 22). Esquecemo-nos de que
nós mesmos somos terra (cf. Gn 2, 7). O nosso
corpo é constituído pelos elementos do planeta; o seu ar permite-nos respirar,
e a sua água vivifica-nos e restaura-nos.” (Papa Francisco, Laudato Si’)
Nós, Povos indígenas, de terreiros, ciganos e comunidades pesqueiras,
quilombolas, rizicultoras, ribeirinhas e
vazanteiras, movimentos sociais e estudantis, educadores, entidades populares,
pastorais, sindicatos, associações, colônias, ONGs, mobilizados no “Grito em Defesa do Rio São
Francisco” realizado em Propriá-SE, região do Baixo São Francisco, manifestamos
nossa profunda indignação com a grave situação socioambiental que se encontra o
Rio São Francisco, especialmente em relação aos fortes impactos causados pelas
barragens, bem como pelo controle da vazão voltado para atender os interesses
do agronegócio, da indústria da seca e da matriz energética descomprometida com
a biodiversidade, e com a reprodução física e cultural dos povos e comunidades
tradicionais da região.
No contexto do 27º aniversário da Constituição Federal nos unimos a
Semana Nacional de Mobilização dos Povos e Comunidades Tradicionais e na Bacia
do Rio São Francisco defendemos os direitos desses povos conquistados com muita
luta. Denunciamos as estratégias das três esferas do estado brasileiro (Congresso
Nacional, Governo Federal e poder judiciário) que visam retroceder os direitos
humanos, sociais, ambientais, econômicos, espirituais e culturais favorecendo o
avanço dos grandes projetos econômicos sob os territórios tradicionais.
É de conhecimento público que na região do Baixo São Francisco a baixa
vazão tem provocado o desaparecimento das lagoas marginais, a diminuição de
quantidade, qualidade e extinção de espécies da fauna e da flora, o
assoreamento do rio, que tem como consequência o avanço do mar, alterando
significativamente as características do ecossistema e os modos de fazer, viver
e de reprodução das populações locais. Consideramos a Chesf como a principal
responsável por essa grave situação.
Além disso, denunciamos o avanço dos grandes empreendimentos turísticos,
petrolíferos, de piscicultura e carcinicultura, bem como o avanço do latifúndio
(monocultivo da cana-de-açúcar, do arroz) e a intensiva utilização de
agrotóxicos nocivos à saúde e ao meio ambiente pelo agronegócio. Consideramos a
Codevasf, a Petrobrás, a indústria da aquicultura e do turismo de massa como as
principais responsáveis por essas situações. Combatemos os discursos
preconceituosos, do governo do estado e de setores da aquicultura, que visam
descaracterizar o modo de vida e a identidade do pescador e pescadora
artesanais, para prevalecer os interesses dos empresários da carcinicultura e
tilapicultura.
Dessa forma:
§ Reforçamos nossa luta em
defesa dos direitos e dos territórios dos povos e comunidades tradicionais;
§ Exigimos a efetivação e
ampliação dos direitos humanos, sociais, ambientais, econômicos, espirituais e
culturais dos povos e comunidades tracionais;
§ Exigimos a imediata
regularização fundiária dos territórios indígenas, quilombolas, pesqueiros, terreiros,
ciganos e vazanteiros, bem como uma efetiva reforma agrária popular;
§ Exigimos uma real revitalização
da bacia como forma de garantir a biodiversidade e o modo de vida dos povos e do
Rio São Francisco.
Continuaremos envoltos da mística do Velho Chico, com toda a sua beleza e
biodiversidade. Seguiremos firmes na luta em defesa das águas, das terras, dos
povos e territórios livres.
Propriá, Sergipe, 7 de outubro de 2015.
ASSINAM REPRESENTANTES DAS SEGUINTES ENTIDADES E OUTRAS...
- Comunidades Quilombolas, Assentamentos Agrários, MST, MPA, MPP, Colônias
de Pescadores Artesanais, Articulação Popular São Francisco Vivo, CPP, Cáritas
Diocesana de Propriá, SINTESE (Professores e Estudantes), Pastoral da Juventude
Rural, Sindicatos, SINDISERV de Propriá, STTR’s, Pólo Sindical do Baixo São
Francisco, , Escolas das redes públicas de ensino, Diocese de Propriá, Associações,
ONG Carranca, AGENDHA, MMC e outras.
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