quinta-feira, 17 de abril de 2014

Diocese de Brejo do Maranhão recebe oficina sobre Território Pesqueiro

Por Mª José Pacheco / CPP Nacional 


Entre os dias 11 e 14 de abril, a secretaria nacional do Conselho Pastoral dos Pescadores (CPP) esteve no município de Brejo, no Maranhão, para apoiar a construção da Pastoral dos Pescadores na Diocese de Brejo. 

Foi feita uma oficina sobre a Campanha Nacional pela Regularização do Território das Comunidades Tradicionais Pesqueiras, aprofundando com pescadores e agentes pastorais a proposta do projeto de lei de inciativa popular que a campanha propõe. Durante toda a atividade, contou-se com a rica e comprometida presença do bispo da Diocese, Dom Valdeci.

A oficina foi uma experiência profunda devido à riqueza da sabedoria dos pescadores e das pescadoras presentes.  A cultura também esteve presente no encontro. A noite do dia 11 foi abrilhantada com uma rodada de lendas e história de pescadores que mostraram uma rica criatividade.

A Diocese de Brejo sensibilizou-se com as graves ameaças e a situação social que vivem os pescadores e as pescadoras, dos 21 municípios que compõe a diocese, todos têm atividade da pesca, e na sua circunscrição existe uma riqueza de rios, mares, manguezais e os próprios lençóis maranhenses. O povo local convive com a exuberante natureza.




Conflito

A presença de uma unidade de proteção ambiental integral nos lençóis maranhenses chamou a atenção do Bispo Dom Valdeci.  Essa unidade quer restringir os direitos das comunidades locais, proibindo a pesca, a agricultura de subsistência, a construção de casas e o acesso à energia. Testemunhas afirmam que os agentes ambientais orientam os filhos dos pescadores que casam a ocuparem os fundos dos quintais das famílias, enquanto isso, esse mesmo órgão faz vista grossa para as pousadas que estão crescendo na região. Dom Valdeci ressalva que as comunidades pesqueiras convivem com estes recursos naturais há séculos, com poucos impactos, seja com a agricultura de subsistência, seja com a pesca artesanal.

segunda-feira, 14 de abril de 2014

Na Baía de Guanabara/RJ, pescadores e pescadoras artesanais sofrem com a intervenção da Indústria Petrolífera

A região é impactada pelo avanço da exploração do petróleo e coloca em risco a atividade e a vida das comunidades pesqueiras do entorno.

Adaptado do site do Canal Ibase. Texto original

Por Rogério Daflon

Pescadores da Baía de Guanabara / Foto: Racismo Ambiental

Nos anos 1930, ao visitar a Baia de Guanabara, Claude Lévi-Strauss torceu o nariz, contrariando a opinião da maioria. Ele a descreveu como uma boca banguela o Pão de Açúcar e o Corcovado como dois tocos de dentes, desagradando aos amantes da paisagem. Imagine hoje o que diria ele, um dos maiores antropólogos de todos os tempos, se soubesse que nesse belo espelho d’água uma atividade tradicional está  sendo expulsa: a pesca, hoje praticada em apenas 12% dessa mítica superfície contínua de água. A disputa por espaço asfixia esta atividade que os índios já praticavam antes de os portugueses a descobrirem e adentrarem a Baía, em janeiro de 1502, confundindo-a com a foz de um rio e lhe dando o nome de Rio de Janeiro. O  desprezo à rica trajetória da pesca artesanal ali fica evidente nas estatísticas. O número de pescadores localizados na região metropolitana do Rio de Janeiro em 1991 era de 4774 trabalhadores, enquanto em 2010 contavam-se apenas 1771, ou seja, uma redução de cerca de 62%, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A maior culpa no cartório nesse caso é da indústria petrolífera, mas ela não está sozinha nesse mar de ambições desmedidas. Tudo indica que a história vai piorar com o processo de licenciamento do Pré-Sal da Bahia de campos e o Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj).

Presidente da Associação Homens e Mulheres do Mar (AHOMAR), o pescador Alexandre Anderson de Souza vem denunciando não só o abuso das atividades econômicas contra a pesca artesanal, mas também os atentados que ele e sua mulher sofreram e a morte de seis pescadores na Baía de Guanabara. Alexandre conta que a reação da segurança dos empreendimentos é a pior possível em relação à presença dos pescadores na Baía de Guanabara:

- Embarcações nossas já foram recebidas a tiros. Em 2010, visitamos 28 comunidades que beiram a Baía de Guanabara de Niterói a Duque de Caxias. Em todas elas, a pesca estava acabando. E isso é devido à perda do território, principalmente para empreendimentos petrolíferos. É uma expulsão dos pescadores. Boa parte deles está abandonando a profissão ou, diante da crise da atividade, sendo sustentados por terceiros – diz Alexandre.

A geógrafa Carla Ramôa Chaves, que fez dissertação de mestrado sobre o tema na UFRJ, mapeou os empreendimentos que sufocam a atividade pesqueira. Ela explica que os 12% restantes à atividade de pesca na Baia de Guanabara levam em conta as áreas de influência direta e indireta dos empreendimentos de grandes empresas causadoras de impactos ambientais, como Petrobras, terminais e refinarias. Mas há outros usuários da Baía, como a Marinha e o Exército. Os rios poluídos e até mesmo a Ponte Rio-Niterói são outros fatores maléficos à pesca.

- Em algumas áreas próximas a dutos, não é proibido pescar. Mas, como eles interferem na temperatura da água, os peixes se afastam da região. O próprio percurso das barcas do trajeto Rio-Niterói são um empecilho à pesca. Há também as barcas que vão para Paquetá. Tem uma área de segurança ali. O assoreamento em áreas da Baía, lixões, cemitérios de navios e a presença também do Exército, tudo isso vai minando a atividade e imprensando o espaço dos pescadores, que chegaram muito, muito antes de toda essa infraestrutura à Baía de Guanabara – diz Carla, ressaltando que mais de 46% do espelho d’água são tomados pela atividade petrolífera.

Em meio a esse clima opressor, há dois pescadores desaparecidos e outros quatro encontrados mortos, alguns com barcos perfurados de bala. O próprio Alexandre, além de ser vítima de tentativas de assassinatos, chegou a ser sequestrado e vive sob proteção policial.

- Nós estamos lutando, ao mesmo tempo, pela continuidade da pesca e pela preservação do meio ambiente na Baía de Guanabara – diz Alexandre.

Ex-chefe da Área de Proteção Ambiental de Guapimirim, Breno Herrera diz que há muitos pescadores em depressão.

- Há caiçaras em profundo desgosto.     
Pescador da Baía / Foto: Michelle Gomes
 
Especialista em Justiça Socioambiental, o professor Sebastião Raulino integra o Fórum dos Atingidos peoa Indústria de Petróleo e Química. Para ele, a Baía de Guanabara se transformou numa espécie de planta fabril da Petrobras, na qual um dos seus representantes mais danosos é a Refinaria Duque de Caxias (Reduc).

- A Baia de Guanabara é um grande ecossistema e, no seu entorno, moram mais de 10 milhões de pessoas que precisam ter qualidade de vida. Ocorre que toda essa população está sofrendo e vai sofrer com a poluição dessas atividades. Refinarias em operação, passando pelo Comperj em construção, geram poluição no mar e no ar. Há muito armazenamento de combustível na baía, oleodutos, gasodutos, navios com cargas perigosas, embarcações que soltam tintas tóxicas…

O pior de tudo é ouvir do poder público do Rio que a Baía de Guanabara vai estar despoluída para os Jogos Olímpicos de 2016. A ambição das empresas e dos governos que dão força a um modelo de desenvolvimento destrutivo deixam aquela beleza que tanta estranheza causou ao antropólogo franco-belga extremamente comprometida. Diante desse caos, os pescadores sofrem, tentam sobreviver e manter uma tradição que remete a um mar com água cristalina e mais espaço para pesca. Tristes trópicos.

Importância da pesca artesanal para o país.

A pesca artesanal garante a segurança alimentar e nutricional de milhares de comunidades pesqueiras no Brasil e da própria população brasileira. Estima-se que quase 70% do pescado produzido no país é proveniente dessa produção.  Além da importância econômica, os pescadores e as pescadoras artesanais desenvolveram ao longo da história uma série de saberes, fazeres e sabores que representa em síntese elementos culturais de matriz indígena e afro-brasileira.

O fato da pesca artesanal ser uma atividade milenar significa dizer que as comunidades tradicionais pesqueiras estabeleceram uma relação bastante peculiar com os recursos naturais. As diversas estratégias utilizadas por essas populações garantem a preservação do meio ambiente onde vivem, bem como a sua reprodução física e cultural.

segunda-feira, 7 de abril de 2014

Carta de repúdio à Política do Ministério da Pesca e Aquicultura

A forma como o Estado brasileiro trata os pescadores e as pescadoras artesanais do país é de causar indignação e vontade de justiça. Essas populações tradicionais possuem enorme importância para a conservação do meio ambiente e para a promoção da segurança alimentar entre os brasileiros e as brasileiras. Além disso, são símbolos de uma cultura milenar, com seus cantos, suas danças, seu modo de vida e o respeito que levam e ensinam para a sociedade. O governo brasileiro, no entanto, coloca interesses econômicos na frente dos direitos dessas comunidades tradicionais.
Confira a carta de repúdio  à política adotada pelo Ministério da Pesca e da Aquicultura (MPA) em relação a pesca artesanal. Assinam o documento movimentos sociais, associações, instituições de ensino, pesquisadores entre outros.